Três é demais?
/Bati um longo papo outro dia com uma prima querida, lindamente barriguda aos oito meses de gravidez. Estávamos observando o primogênito dela, que tem quase 3 anos, quando ela disse assim, no meio de outras frases: “não sei porque, mas eu tenho uma certa vergonha de admitir que penso nisso”... Nisso, no caso, era no direito dela e meu (e seu!) de querer ter mais filhos. Sim, mais que dois. Três! Ou quatro! E, diferente do que pode parecer, essa hipótese - de uma mãe de dois não ter “fechado a fábrica”, usando a horrenda expressão que ouço toda hora - não é considerada pela maioria. Depois de décadas de pressão para que a mulher procriasse, e procriasse, e procriasse, vivemos uma era em que quem opta por formar uma família levemente mais numerosa é visto como excêntrico, para dizer de forma delicada.
E são dois os pontos interessantes aí: o primeiro é a necessidade que temos de determinar o rumo e o ritmo da vida alheia. “Opa! Casou? Tá na hora de encomendar o bebê....” “Já fez dois aninhos? Hum… tá animada pro irmãozinho?” “Nossa, grávida? Mas que animada… Bom que agora é só criar, né?” “Ah, bem fez você, já teve os dois, agora não tem mais que preocupar, é só crescer…” Da mesma forma que não cogitaram, lá atrás, que eu - ou a minha prima, tanto faz - talvez não quisesse ter filhos, também não pensaram, agora, que meus planos possam, quem sabe, ser outros. Já traçaram um plano para mim, e vejo pontos de exclamação no rosto deles quando "ouso" deixar uma dúvida no ar...
E a outra coisa que me chama a atenção nesse caso é o motivo pelo qual ela tem “uma certa vergonha” de interromper as suposições aí de cima e dar um bom "chega pra lá" nos palpiteiros. Não tenho elementos para uma posição conclusiva, mas imagino que o desconforto dela, que também experimento com frequência, tenha a ver com a imensa cobrança que depositamos - e deixamos depositar - em cima de nós mesmas, mães… Neste modelo de vida multitarefa que temos hoje, é raro colocar a cabeça no travesseiro, ao fim do dia, com a sensação de ter feito tudo o que precisava pelas crianças. A gente acha que faltou alguma coisa e, frequentemente, a culpa nos faz achar que os outros também acham. E, se está faltando com dois, imagina com três, ou quatro...
Mas, considerando que as questões financeiras não são o ponto central desta conversa, será que falta? Há menos de duas semanas, voltávamos pra casa eu e meu menino quando ele perguntou: “mãe, por que você não pede ao papai do céu uma irmãzinha pra mim?” Eu dei aquele sorriso que a gente dá diante de uma fofura dessas, e perguntei: “você acha uma boa ideia?””Sim!” “Não posso, amor! Seu irmão ainda é muito bebê. Já pensou se a mamãe tiver que cuidar de você, dele e de uma menininha menorzinha?” E ele retrucou: “ah… mas depois que ele crescer mais um pouquinho pode, né?” Eu não respondi, mas pensei: que pode, pode.