Chega de azul vs. rosa!
/Estava lá pra todo mundo ver: as meninas, submersas no rosa, inspiradas em batom e longos cabelos amarelos, sorriam e faziam pose de um lado; do outro, cercados de azul e com suas armas em punho, “se divertiam” os meninos. A eles cabia jogar, pensar, exercitar o cérebro. A elas, se arrumar, se deixar fotografar. Ora, claro que essa dicotomia antiga, limitadora e, como não dizer, violenta, está incutida, em maior ou menor grau, na cabeça de todos nós criados nesse nosso mundo – inclusive na minha e na sua -, mas não deixo de me espantar.
Desde que abri os olhos para a importância de uma formação inclusiva e potencializadora – um pouco antes do meu filho mais velho abrir, ele mesmo, seus olhos propriamente ditos – tenho visto o tamanho do desafio, a luta sem igual que é tentar passar para uma criança a ideia que entre o azul e o rosa há um mundo de possibilidades e que explorá-las só vai fazer dela um adulto melhor. E mais: que seus gostos, vontades e talentos não estão e não podem estar predeterminados por seu gênero.
Claro que sei que a educação não está na lista de preocupações do comércio quando escolhe uma “atração” para a criançada... Também sei que o argumento “mas é disso que eles gostam” estará na ponta da língua, feito um escudo... Mas considerando que estamos nós, mães e pais, em nossa maioria, nos desdobrando hoje para dar conta das mil e uma tarefas que vêm da decisão de criarmos juntos nossos filhos e, por juntos, quero dizer com todos trocando fraldas e todos provendo as fraldas, não era para essas questões já estarem tomando outros contornos? A geração que frequenta hoje a porta das escolas infantis já não devia estar derrubando isso?
Sei da importância de as crianças reconhecerem a diferença de gênero. Isso é uma coisa. Outra é, em pleno 2015, separarmos o mundo entre "coisa de menino" e "coisa de menina"... O que mais incomoda é ver que tem fila pra frequentar o clube azul e rosa. Assim como, também, vai ter muita gente comprando a novidade do momento: ovo de Páscoa de menino ou ovo de Páscoa de menina – já viu? Claro que, olhando assim, é só um ovo de Páscoa, só um brinquedo, só uma cor (predeterminada). Mas, de outro ângulo, é a permanência da distinção entre homens e mulheres, entre tarefas e tarefas, salários e salários, direitos e direitos... Ovos e ovos, brinquedos e brinquedos...
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