Perfeito? Quem?
/“Como eliminar birras”, “sete segredos para criar uma criança educada”, “pedagoga revela quatro passos para educar seus filhos” “como contornar os acessos de raiva e evitar brigas na escola”... Essas chamadas estão aí por toda parte, isca perfeita para nós, pais bem intencionados, e eu fico pensando: será que dá? Será mesmo que existe um manual, um guia para fazer seu filho responder aos seus estímulos e ensinamentos exatamente do jeito que você quer e sonhou? Existe não, gente!
Muito mais que soluções, esses guias vendem uma pressão sem tamanho. Cada vez que meus filhos “saem da linha” (que linha, meu deus?), eu sinto uma pontadinha na barriga. Mesmo sabendo a ignorância que há por trás disso, admito que queria que isso nunca acontecesse. Que eles nunca armassem um escândalo na rua. Que nunca me desafiassem constrangedoramente na frente de estranhos. Que não saíssem correndo por aí ignorando o meu chamado. Que não batessem no coleguinha (ou na cara da mamãe). Mas acontece que eles são gente. E gente numa condição muito especial: gente descobrindo o mundo!
A mãe – e espero que o pai também - tenta, se informa, lê (inclusive os manuais), conversa, tenta mais e insiste... E eles? Eles sorriem, fazem carinho, dizem fofuras, e vão testando a cada dia. Já perdi as contas do número de vezes que quis fugir, me sentindo julgada e derrotada pelos olhares de surpresa de quem assiste a uma crise de birra, por exemplo, como se aquilo significasse que falhei. Mas existe alguma criança saudável que não faz birra de vez em quando?
Vira e mexe alguém aparece com um discurso pronto, do tipo “eu fiz assim e funcionou...” ou “lá em casa isso não acontece”. Mentira. É só olhar de perto. Se não acontece assim, acontece assado. Se ainda não aconteceu, vai acontecer. Devemos cruzar os braços? Claro que não! Mas da mesma forma que pai que é pai educa, criança que é criança foge do riscado. Porque é difícil demais descobrir esse mundo sem um piti ou outro. E porque é injusto demais querer que um menino seja qualquer coisa diferente de um menino.
Menos manuais, mais vida real.