Mundo, vasto mundo

Chegará um dia, mais cedo ou mais tarde, em que seu pequeno encherá o peito de argumentos e te dirá: "Mas mãe, a mãe dele deixa!" Ele, no caso, é o amigo(a) da escola, do clube, ou do prédio. Também pode ser o primo, o menino da natação ou até aquele que sentou do seu lado na lanchonete. É a hora em que a criança percebe que o o mundo dela - construído em torno de uma casa, uma rotina e uma série de regras - não é o único. E nasce aí mais um dos grande desafios de pai e mãe: fazê-los entender que sim, existem possibilidades, e que escolhemos regras e caminhos para seguir. E que, embora cientes de que a nossa verdade não é a única verdade, é nosso papel defendê-la com coerência e firmeza - e coração aberto, é claro, porque é sempre possível se reinventar.

Dá medo, nessa hora, de perder as rédeas do que construímos até aqui. Também assusta o risco de nos transformarmos de mamãe querida - ou papai querido - no vilão da vez. É preciso coragem para manter o combinado diante de uma argumentação tão emocionada. “Por que ele tem e eu não tenho?” arranha os ouvidos da gente, seja a resposta qual for. Dentre os questionamentos aqui, têm sido muito frequentes aqueles em torno das regras de convívio - na escola, no clube e no prédio. Nós, por opção, somos fiéis a elas, mas é claro que uma criança de 3 anos quer brincar até mais tarde, quer ir pra escola sem uniforme, quer levar um sem fim de brinquedos onde quer que vá, quer usar a quadra de tênis para deslizar rodinhas de todo tipo e até jogar futebol dentro do quarto. 

Também é claro que tem um monte de gente por aí que acha que tudo isso tudo bem, se é o que ela quer, e é neste sentido que o impulso primeiro passa por reclamar do comportamento dos demais - que a meu ver também deviam respeitar regras. Mas aí penso mais um pouco e vejo que esse é só o começo da questão casa versus mundão sem porteira, e que talvez seja uma boa oportunidade para adubar nossas sementes. É claro que aos 6, aos 10, aos 15, serão ainda mais profundos os embates entre o que fazemos em casa e como agem os outros, e não vai adiantar muito sentar e reclamar. O que talvez adiante é focar na parte que me cabe, por assim dizer, e então vamos tentando...

Da mesma forma que optamos por ser fiéis às regras de convívio e a aquelas que julgamos importantes pra educação deles, escolhemos criar meninos para o mundo, em contato com o que há por aí, com o colega, com a família do colega, com os meninos do clube, com a rua, com quem está na rua… Isso traz uma riqueza indescritível, mesmo que no pacote venham novos desafios na forma de palavras que não costumamos usar ou de brincadeiras que não gostamos. A outra alternativa seria mantê-los num mundinho seguro, sem riscos, moldado para fazer feliz até a página 2.

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