A mãe gripada

Elizabet Dominguez/StockSnap

Elizabet Dominguez/StockSnap

Eu me lembro bem como era ficar gripada há uns anos. Eu espirrava feito louca, sentia o corpo ruim, aquela enooorme vontade de ficar na cama e fazia o que? Ficava na cama! Deixava de ir na aula e passava um ou dois dias inteiros hibernando ou, mais recentemente, ainda que eu tivesse que trabalhar, chegava em casa e me rendia à novalgina e à caixa de lenços, e só saia dali pra jornada do dia seguinte. Agora, vou te contar como é ficar gripada: é torcer pra minha crise de sete espirros não coincidir com os espirros do bebê; é implorar pra que o menino entenda que não é uma boa a mamãe brincar de massinha com esse nariz escorrendo; é rezar pra dormir umas seis horas direto.

Eu já tinha baqueado antes, é claro, mas vivi uma experiência especial, pra não dizer enlouquecedora, nesta última virada de tempo. Primeiro eles, os dois meninos, se revezaram ao logo de seis dias de resfriado, com noites mal dormidas, febre, espirros comprometedores e faltas na escola. Com a doce ajuda da minha família, eu sobrevivi e, quando achei que estava tudo em cima, comecei a sentir aquele arrepio que anuncia a gripe. E tome espirro, dor no corpo e a enoooorme vontade de ficar na cama. Mas pra poder eu ficar na cama, precisava, primeiro, que eles ficassem, e, como Murphy é o cara, quanto maior a minha pressa pra dormir, maior o número de vezes que o bebê cantava “bilha, bilha, estelinha” no meu colo. Sob o risco de devolver pra ele o presente viral que ele me deu, fui desenvolvendo formas de guardar a tosse, nem sei bem como, e improvisar versões fanhas da música da vez, com o pescoço duro de tanto olhar pra cima.... Vencida essa etapa, nem tudo está resolvido, porque o irmão quer água, de madrugada, e de manhã cedo quer colorir, e vá você colorir com o nariz escorrendo...

Eu escrevi gripada lá no título, mas pode ser a mãe com dor de cabeça, a mãe com rinite alérgica ou de piriri (tem também outras variações bem mais sérias e, nesses casos, nem dá pra achar graça). Essa é uma faceta a mais da maternidade: temos comprometido nosso direito de adoecer e, se adoecer, tem que ser, assim, vapt-vupt. Sem direito a charme, porque a demanda não para, não se sensibiliza com seus olhos lacrimejantes, e a gente não quer deixar furo. O terapeuta vai dizer que isso é muito ruim, e que a gente deve sempre preservar o nosso espaço, inclusive o de fraquejar. E eu não vou discordar. Mas, me diz, como é que faz?

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