A mãe dividida (e uma boa dose de amor de irmão)

will_i_be via Visual Hunt

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Virei uma mediadora. Meu principal trabalho neste dias de hoje tem sido administrar os interesses de um menino de 4 anos que quer levar a sério sua brincadeira - propositadamente individual - de criar histórias cercado de bonecos e figuras de cena e os de outro menino, 1 ano e 8 meses, que quer participar do seu jeito e fazer tudo o que faz o irmão mais velho. Eles se amam. Mas não tá fácil pra ninguém. Um está absolutamente insatisfeito porque vira e mexe o pequetito tira tudo do lugar; o outro está insatisfeito porque vira e mexe a mãe tira ele do recinto; e a mãe está insatisfeita porque nem rebolando dá pra fazer todo mundo (o tempo todo) feliz.

E seguimos assim, todos os dias. A árdua tarefa faz parte da missão de qualquer mãe com mais de um filho, mas tira a gente do sério porque escancara uma verdade que a gente fica tentando evitar: nem sempre eles estarão em sintonia. E fica difícil a medida entre o direito do mais velho, que quer privacidade e sossego pra criar seu mundo particular, segundo sua ordem e critério, e o direito do mais novo, que quer e precisa explorar o mundo e ser aceito, totalmente aceito, dentro de sua própria casa. E você, que sempre fez questão de defender a liberdade, os interesses, enfim, o direito do seu filho, vai notar que, se são dois filhos, são então dois direitos e, muito frequentemente, um vai te impedir de atender o outro.

E aí vão dizer: um pouquinho pra um, um pouquinho pra outro. Sim, faz sentido, o caminho é esse. Mas um menino de 1 ano e oito meses não parece muito disposto a compreender quando é hora do pouquinho do outro, e isso pode ser especialmente problemático em um apartamento pequeno, sem isolamento acústico. Ele berra. E a mãe faz de tudo para substituir o irmão insubstituível, ídolo do momento, que diz que não quer companhia mas, sem nenhum aviso, chega perto e lasca um beijo na bochecha do neném, “o neném mais fofo do mundo”, na avaliação dele.

Nosso pequeno drama familiar tem uma vantagem: com duas crianças em casa, especialmente neste desenho de 4 para 1 ano, que é o que eu conheço bem, fica nula a chance de alguém achar que está com o rei na barriga. A gente aprende a viver no tumulto, aprende a viver na adversidade, e a dividir tudo, até a atenção de mãe, até as bolas fora que a mãe dá (ou alguém acha que nessa de mediar, e mediar e mediar e, em alguns casos, intervir, a gente acerta sempre?). Se tem uma coisa que me anima neste contexto é saber que os meninos têm já a oportunidade de compreender que amor de família se faz de várias formas e que não depende de uma infinita sequência de sorrisos. E que entre duas pessoas que se amam existem também outros interesses, outras obrigações, outros carrinhos e outros bonecos, e que tudo bem. E que a mãe, que tanto ama, que tanto quer bem, se estica daqui e a dali, mas nem sempre sabe exatamente o que fazer.

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