O bebê resmungão (e a saudade que dá)

Era uma vez um bebê-quase-menino ou um menino-ainda-meio-bebê que vivia resmungando. Raramente se passavam 30 minutos sem que ele, acordado, não reclamasse de algum jeito. Não era resmungo bravo, nem parecia grave, mas era toda hora. Era como se o leite não estivesse exatamente como ele queria, o pão também não, nem a brincadeira do momento, nem a roupa que ele ia por. Nada parecia agradar por muito tempo. Lindo, mas ranheta.

Até que, num fim de semana qualquer, o irmão passou a noite fora e ele, por um dia inteiro, tinha mamãe e papai só pra ele. Fralda trocada, mamadeira na hora, ciclo de brincadeiras escolhidas (e abandonadas) no ritmo dele… e nenhum resmungo. Coincidência ou não, ninguém precisava conversar sério, nem dar bronca, nem pedir calma, porque tudo estava em calma. Vamos sair pra almoçar? Vamos! Passeio sereno, menino feliz e um pequeno conflito por causa da carne no prato da mamãe (quem nunca?), mas nada que se possa comparar com o dia a dia. Menino feliz é garantia de mãe e pai pacientes (ou será que mãe e pai pacientes são garantia de menino feliz?), e assim foi durante o passeio, que terminou com um cochilo gostoso, leve, de quase duas horas no meio da tarde…

Depois de meses tentando de tudo para que o pequetito resmungasse menos, seria doce a descoberta se não fosse também trágica. Como é que eu vou fazer para evitar a reclamação se a reclamação nasce do simples fato de termos, eu e o meu marido, que dividir a nossa atenção entre o bebê e o irmão? Como vou tirar de perto alguém que eu quero tãaaao perto e que precisa tanto de mim? Como pode a presença de alguém que ele ama tanto ser a explicação pra angústia dele? Como vou dar toda a atenção se eu não tenho toda a atenção pra dar? Eu posso investir em mais dias como esse domingo, claro, mas será que vai bastar? Será que não tem outro caminho?

Enquanto eu ainda me questionava, o dia acabou e fomos providenciando os preparativos para ir para a cama, ainda sem que o irmão tivesse chegado em casa. Leite tomado, dentes escovados, silêncio… e barulho na porta. Irmão? Sim, ele chegou! Sem perguntar se podia, eles pularam pra mesma cama, deram beijos, abraços e risadas eufóricas. “Mãe, faz um vídeo da gente?”, me pediu o mais velho, que também tinha gostado do dia, sem deixar a menor dúvida: “é que a gente tá com saudade”.

Na manhã seguinte, voltamos, felizes, aos nossos resmungos de costume.

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