Queria... não quero mais!

De um a dois minutos. É o que dura, em média, a vontade do meu filho mais novo. Um ano e onze meses de muitas convicções e muitas mudanças de planos. Como diria Marina, “tudo em você é fullgás” (nos dois sentidos)... E se eu não tomo muito cuidado, “tudo você é quem lança, lança mais e mais... “ Dois minutos, muitas vezes, não é tempo suficiente nem para eu providenciar o que ele queria antes e já não quer mais… Até eu pegar o papel, achar a caixa de giz e desocupar a mesa, já foi. Agora ele quer o boneco que tá no quarto, quer brincar com as ferramentas, quer pescar o peixinho, quer pão com manteiga - e ai da manteiga se ela não aparecer correndo no pão…

E passo os meus dias tentando achar o ponto entre respeitar as vontades dele e, delicadamente, ir ajudando-o a compreender que é preciso esperar e escolher, duas “bobaginhas” tão fundamentais. Quando a gente vai se preparar para a chegada do bebê e procura saber sobre o desenvolvimento dele, fica devidamente avisado sobre essa atenção difusa, sobre essa fase em que a criança ainda não se concentra mesmo, em quase nada, por mais de uns minutos. Não tem nada fora do previsto. A questão é que pesa sobre os nossos ombros a responsabilidade de compreender, aceitar e respeitar o “tempo dele” num mundo de mil outras obrigações. Ou alguém acha viável esses ciclos infinitos de vontades ao longo de horas, de um dia inteiro?

Tentei a dedicação exclusiva de meia-hora. Mais ou menos assim: escolho um momento do dia pra ir na onda dele, pra fazer o que ele quer, pra entrar na dança. Quer? Toma! Não quer mais? Tudo bem! Quer de novo? Aqui está! Sem preocupação com a educação, com as lições da vida, com os limites. Deixando ele achar, por 30 minutos, que o (nosso) mundo é dele. E isso resolve? Sei lá. Não. Resolve pra mim, de certa forma, porque me dá um pouco mais de segurança na hora do limite, que é quase o tempo todo. Pra ele, muitas vezes, parece que só o tempo resolverá.

Há uns 3 anos, passei por essa mesma aflição com meu filho mais velho e, agora, vira e mexe, ele me lembra do quanto é preciso dar tempo ao tempo. Às vezes, fica uma hora inteira inventando histórias com seus bonecos vestidos de herói. De repente, até reclama se eu - quem diria? - peço para encerrar a brincadeira depois de muitas dezenas de minutos. Depois, vai desenhar alguma coisa e, se não fica muito tempo, fica tempo suficiente pra eu dar a tal meia-hora de atenção exclusiva ao pequetito. Não lembro como foi. Mas um dia passa, assim, de uma hora pra outra, tipo o estalo que desentope o ouvido da gente na descida da serra…

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