Outro amor, outra beleza…
/Eu hoje precisei deixá-los sozinhos em frente à TV, coisa que eu faço pouco, e a paz terminou junto com “Miraculous”. Percebi que o menino trocou de canal e foi imediatamente repreendido pelo pequetito, porque “Equestria Girls é muito chato”. “Chato nada, chato é Porto Papel.” Deixei que se resolvessem, eles desligaram a TV, solução que deixou a mãe feliz da vida. Mas em dois minutos o menino estava na cozinha pra reclamar que o irmão estava levado demais, que riscou a estante, que não sabe brincar com os lápis novos, e que está no canto da sala tentando pegar os remédios na prateleira do papai.
Sabe quando precisei pedir ao menino, quando ele tinha dois ou três anos (e também depois, seja quando for) pra que não mexesse ali? Nunca. Ele não escala estantes. Pra não riscar os móveis eu precisei pedir, mas foi uma ou duas vezes só, coisa bem leve. O pequetito é diferente. Nem melhor, nem pior, diferente… A gente engravida de novo, pensa no que deu certo, se prepara para ajustar o que não deu certo, e acha que já largamos em grande vantagem… mas vem aí o caçula pra te dar uma aula sobre o ser humano, pra te mostrar o quanto somos diferentes uns dos outros, ainda que tenhamos a mesma família, a mesma casa, as mesmas regras.
Isso nos ajuda, já adultos, na hora de olhar pras diferenças que a gente vai percebendo entre nós e as pessoas que a gente gosta, e às vezes gosta muito. E, sob a ótica da maternidade (ou da paternidade, claro), potencializa nossa experiência de forma incontestável. Nos oferece uma oportunidade nova, de novo grande, de novo rica, capaz de nos mostrar outro(s) lado(s), capaz de nos ensinar a ver daquela outra forma, a conhecer um outro jeito, a reconhecer (mais) uma nova forma de beleza. Vai multiplicando o olhar.
Acontece quase diariamente na porta da escola: eu desço do carro, pego as mochilas, abro a porta deles, já tiraram o cinto, descem, e andamos lado a lado por alguns metros, até a faixa de pedestres. Ali eu procuro a mão do pequetito, quase sempre preciso segurar forte, e ele, ao mesmo tempo que tenta soltar, me aperta com força também. Tem um peso, uma textura, um calor único. Quando já estamos de mãos dadas, o menino procura sozinho minha outra mão, cheia de mochilas, acha espaço, segura de leve meu dedo, faz um carinho na unha, especialmente se tiver esmalte. Sempre foi assim. Tem um peso, uma textura, um calor único.
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