Pequetito com p maiúsculo

Fomos outro dia a um desses brinquedos de shopping center, e a moça disse: “ele precisa ir acompanhado”. Ela apontava pro pequetito, mas eu custei a ver que ela falava comigo. Devo até ter olhado pros lados, naquela fração de segundo, pra entender a quem ela estava se referindo, até me lembrar, retomando os sentidos, que meu filho tem pouco mais de dois anos e meio. Tem 32 meses de vida, e eu, tão acostumada que estou com a dinâmica de independência dele, fiquei achando que ele podia ir sozinho pro labirinto de bolinhas.
 
Obviamente que isso é consequência da história dele, do lugar que ele ocupa no mundo e da forma com que se propõe a fazer isso: ele é o irmão mais novo de um menino bem resolvido, que não precisa de ajuda no brinquedo do shopping, e por causa disso ele também faz que não precisa - e eu acredito. Quer, e quer sempre, brincar com o irmão, montar o quebra-cabeças dele, quer saber que letra é essa, quer subir no escorregador mais alto, e diz, pro caso de eu não estar entendendo: “eu sou grande, mãe”...
 
E aí, na correria do dia a dia, eu vou me aproveitando disso, da parte que me facilita a rotina, e faço isso inclusive sem perceber. Dias depois do episódio do shopping, o pequetito estava resmungando no almoço, dizendo que doía a bochecha, e já tinha dito isso antes, sempre na hora de comer. Meu marido disse naturalmente “isso deve ser dente”, e eu rechacei, quase ri, “esse menino já tem todos os dentes a que tem direito, ele tá é enrolando”, e seguimos em frente. Na hora da escovação resolvi olhar, nem sei porque, e estavam lá: três dentes, três dentões recém-chegados, gengivas rompidas há pouco, tudo novinho em folha (e ainda falta mais um). Me deu até um aperto no peito, uma vontade de abraçar meu bebê, cuidar do dentinho, pedir desculpas.
 
O tempo voou, meu filho, e eu até perdi as contas. Dois anos passam num piscar de olhos, e já são quase três, e tem hora que parece até que já são quatro... Você cresceu, cresceu muito, mas vem aqui no colo da mamãe, olha como ainda te cabe! Meu pe-que-ti-to.

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