A mãe, o doce (e o prazer que dá)
/Foi assim: pouco depois das cinco da tarde, a moça entrou na cafeteria charmosa com um bebê no colo. Ele ainda não tinha nem um ano, aposto em nove meses, dez talvez. Achei que atrás dela viria mais alguém - amiga, mãe, marido, uma galerinha -, mas não. Eram só os dois. Ela sentou, o colocou num cadeirão do lado, e fez seu pedido. Era só pra ela, e era por prazer. Ela saiu de casa (ou esticou um passeio, não sei) pra dar a si mesma o prazer de comer uma coisa gostosa. O menino ficou na dele, um resmunguinho aqui ou ali, mas aceitou a situação. Se distraiu com o paliteiro, ficou olhando pros quadrinhos na parede. Alguns minutos depois chegou o doce, grande, caprichado, lindo! Ela caiu de boca (só ela). Mas, antes, a cereja do bolo: pediu pro garçom tirar uma foto dos três - ela, o bebê, o doce.
Fiquei olhando aquela cena com uma profunda admiração e uma bela de uma inveja. Sabe quando foi que eu fiz isso? Sabe quando saimos, eu e meus filhos, pra fazer uma coisa muito boa pra mim, por puro prazer, enquanto eles me esperavam? Nunca. Não que eu não tenha tido algum prazer, claro, mas tudo dentro das brechas que eles me deram. Ou enquanto alguém cuida deles pra mim. Até hoje, tendo o pequetito dois anos e meio, não encaro com tranquilidade um restaurante só com os dois, a não ser que seja sobrevivência, sabe? Pra eles não passarem fome… Mas uma curtição pra mim, um café, um doce, uma coisa que eu não preciso mas quero… isso não.
Não é à toa, claro. Deve ser porque, se eu pedir pra esperarem mamãe comer esse doce, vão começar a se agitar, vão levantar, rodar em volta da cadeira, falar alto, brincar um com o outro, brincar de lutinha, usar uma espada imaginária, atingir a mesa do lado com a espada, enfim… Vão me deixar louca. Mas será que se eu tivesse comido aquele doce (um hambúrguer, uma pizza) desde sempre, como faz a mãe da cafeteria, eles não teriam entendido que mamãe também tem direito? Será que ainda não dá tempo de entender?
É muito fácil notar que a gente precisa se dedicar aos pequenos quando são, de fato, pequenos, mas também não é difícil enxergar que essa dedicação é mais eficiente quando a gente tá feliz, não é? E outra: já pensou no bem que faz pra uma criança aprender a respeitar e dar espaço pro prazer e pra alegria de outra pessoa? Fiquei inspirada por aquela moça. No fim de semana eu queria terminar de ler um livro e não era porque eu precisava, não era trabalho, nem nada disso. Era porque eu tava doida pra ler. Aí, enquanto os dois brincavam, fui lendo. O interesse deles pelo que faziam terminou antes do livro, e eu disse: “espera aí um pouquinho porque quero terminar uma coisa”. O menino resmungou, reclamou de fome, sempre com muita pressa em ser atendido, e ficou me cercando. “Vou ficar aqui te olhando.” Ok, pode ficar. Mais dez minutos, terminei o livro, e fui fazer o lanche deles com aquele sorriso que a gente dá sem nem perceber…
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