Mãe, mãe, mãe, ôôô maaanhê! (2X)

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Você vai dizer que não, vai balançar a cabeça delicadamente e talvez até ria de mim, mas eu aposto que meus filhos falam “mãe” mais vezes que os seus. Falam sim, não é possível! Não acredito que dê pra um indivíduo chamar o outro mais vezes do que faz essa duplinha aqui, dois tagarelinhas, dois pequenos falantes. Se acordou, tá chamando a mamãe. Quer levantar, quer fazer xixi, comer, brincar, contar um caso, procurar um brinquedo perdido, pedir um brinquedo novo, montar um quebra-cabeças, desenhar o batman, fazer xixi de novo? É mãaae, mãaae! Talvez não precise de mim, talvez eles possam e queiram concluir alguma atividade sem a minha ajuda, mas é força do hábito, sabe? E a incidência aumenta se eu chegar perto de um telefone, se precisar conversar por um minuto ou dois com a minha mãe (também quero, ué!), e mais ainda se o assunto for importante, se for coisa de trabalho, se eu precisar de um certo silêncio.

Sim, essa palavra saindo da boquinha deles é como música boa nos meus ouvidos. Me sinto privilegiada por significar tanto na vida deles, e isso não é uma piada. É seríssimo. Quando eu descobri que seria mãe, lá nos idos de 2011, ficava sonhando com a vozinha do meu bebê, cuja carinha eu nem conhecia ainda, me chamando, e jurava pra mim mesma que o atenderia sorrindo todas - todas! - as vezes, ao infinito e além, que me agacharia enquanto isso fosse necessário, que direcionaria os meus ouvidos só pra ele e seguraria sua mãozinha serenamente dizendo: “oi, filho, pode falar!” Nesse meu mundo ideal, eu não teria pressa, jamais estaria mais interessada em outra coisa, e nunca me cansaria de tanta pergunta, de tanto pedido, de tanta demanda…

2017 chegou. Meu cenário agora é outro: não é uma, mas duas vozinhas a me chamar, a me relatar um sem fim de coisas (que eu quero ouvir, mas preciso secar meu cabelo), a me perguntar o que eu sei e o que eu não sei, a reclamar do irmão “que tá tão chato”... “Então sai daí”... “Mas eu quero brincar com ele, mãe...” “Então brinca” “Mas, mãaae…” Descobri na semana passada que preciso quebrar meu (auto) juramento. Vou fingir que não ouvi. Já tentei, claro, explicar que não posso atender na mesma hora sempre, que também preciso fazer outras coisas e, aliás, quero fazer outras coisas, e parece que existe uma pequena chance de, se eu continuar insistindo, eles entenderem. Uns 3% de chance. Por hora, se eu não fingir que não ouvi pelo menos uns 20% dos chamados deles, eu serei uma pessoa inconclusa. Não concluo conversas, não concluo e-mails, não concluo

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