Quatro dias para quatro anos
/Escutei ele me chamar enquanto eu ainda arrumava minha cama, nada de café sozinha, nada de adiantar a roupa no varal. Mal pisou no meu quarto e disse, como eu já esperava: "faltam quatro dias pra eu ter quatro anos". Nesta semana ele começou a contagem regressiva, e vai se mostrando todo orgulhoso da idade que ele já vinha querendo atingir há algum tempo, nem sei muito bem porque. Ele gosta de crescer. Hoje peguei o embalo da conversa e perguntei: "e o que vai acontecer quando você tiver quatro anos?" "Nada, ué… eu vou continuar crescendo e sendo seu amor!"
O pequetito, que já tem quase um metro, vai cumprindo muito bem a missão de crescer diferente, de conquistar seu espaço, de mostrar quem ele é de multiplicar nossos desafios mesmo estando na cola do irmão, que outro dia mesmo tinha quatro anos. Com suas pernocas rechonchudas e sua boquinha beijoqueira, ele me devolve tudo, todas as emoções, como se fosse a primeira vez. A primeira vez que tira a blusa sozinho, a primeira vez que reconhece sua letra no nome dos outros, a primeira vez que ele descola sozinho o adesivo da cartela! Sinto aquele sorriso dele como se fosse meu, aquela conquista como se fosse minha, e fico sonhando sozinha, pensando em tudo o mais que ainda está por vir. E tem uma vantagem: não é a primeira vez! Não é a primeira vez que alguém ignora meus pedidos pra calçar um chinelo, não é a primeira vez que alguém se desentende com o coleguinha na escola, não é a primeira vez que alguém faz birra no almoço (é bem verdade que tá durando isso, mas já me aconteceu antes…). Agora, é mais fácil pra mim respirar fundo, é mais simples entender que vai passar, é muito mais evidente que eles são todos tão iguais, e tão diferentes, e que nós, as mães, somos tão diferentes, e queremos quase sempre a mesma coisa...
Daqui a quatro dias, completam-se quatro anos desde que ele virou de cabeça pra baixo todas as minhas certezas, desde que ele trouxe junto com ele um pacote de novidades com o qual eu não contava, desde que ele multiplicou a minha perspectiva de mundo e me transformou numa mãe muito, muito melhor do que eu era. E o que vai acontecer quando se completarem esses quatro anos? Nada, ué. Eu vou continuar crescendo, vou continuar pedindo pra ele calçar o chinelo, e ele vai continuar sendo meu amor.