Sim, mas nem sempre...

Frank Mckenna/Unsplash

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Quem ouvisse a frase que veio, firme e forte, da boca dele em direção aos meus ouvidos certamente nos colocaria na caixinha dos filhos que sofrem e das mães que fazem sofrer. Era quarta-feira, o menino acordou preguiçoso como de praxe, e enquanto eu insistia para que tirasse a roupa e colocasse a sunga, porque quarta é dia de natação, ele disse: "não gosto de ir, não gosto disso. Todo dia eu tenho que fazer alguma coisa, toda hora eu tenho que fazer uma coisa que eu não quero." Eu não ouço isso sem acender em mim o alerta vermelho (ei, culpa, como vai você?), e por alguns segundos pensei que talvez fosse mesmo uma sacanagem mandá-lo pra natação. Uma falta de humanidade, porque, afinal de contas, ele não quer!

Sim, se isso fosse verdade. Sim, se ele não reagisse dessa forma a 90% das minhas tentativas de fazer com ele alguma dessas coisas que a vida nos ensina a fazer, tipo tomar banho, escovar os dentes, seguir o ritmo de um relógio. Sim, se disciplina, organização e compromisso não fossem habilidades que precisam ser construídas, como tantas outras, se eu não soubesse bem, por experiência própria, como funcionam a inércia e a preguiça, ou se "fazer só o que se quer" fosse uma opção razoável pra alguém, por mais amado que esse alguém possa ser. Sim, se ele não tivesse tido as manhãs de segunda e terça livres para fazer o que quisesse - e, ainda assim, não tivesse reclamado porque precisa fazer xixi e tirar o pijama.

A gente vem aprendendo a dar ouvidos às crianças, cada vez mais ouvidos, e que bom! Mas elas sabem disso, não é? Quero dizer, as minhas, ao menos, sabem. Sabem que eu quero encher de amor, que quero que se sintam felizes e confortáveis o tempo todo, que não quero ser injusta, não quero errar nas minhas escolhas, não quero que eles sofram com os meus erros… não quero ser rigorosa demais, não quero tirar delas a liberdade, o poder de escolha, a infância com sabor de infância. Sabem, então, que se rolar uma resmungada, que se essa resmungada for caprichada, a mamãe vai titubear.

Sim, titubear é pouco. São momentos e mais momentos de debate interno, de "precisa ou não precisa?", "e se fosse só hoje?", "mas que mãe é essa que eu sou?". Naquela quarta, ele colocou a sunga sem querer, e fomos juntos pro clube. No caminho já foi amolecendo o discurso, já não detestava a ideia, mas quando chegamos precisou ouvir algumas palavras de incentivo para, por fim, entrar quieto no cantinho da piscina. Quarenta minutos se passaram, e o menino virou peixe. "Vamos embora, amor?" Nem meu ouviu. Se eu precisasse mesmo sair naquela hora, precisaria buscá-lo lá no meio da piscina…