A mamãe é você

julie-johnson-514058-unsplash.jpg

Aqui, sentada na minha cama, já ia abrindo um livro pra tentar retomar a leitura quando ouvi lá na sala: “e a mamãe, a mamãe gosta?” O menino estava tendo uma conversa com o pai sobre jogos de tabuleiro, mas não é isso que me interessa. Ele estava me citando, estava me buscando no meio da conversa dele, nas construções que ele vai fazendo sobre o mundo. Estava se referindo à mãe dele. Sinto um calor no peito e uma pequena paralisia, coisa rapidinha, quando o ouço falar “mamãe”, seja diretamente comigo ou, principalmente, conversando com outras pessoas… “Quem é essa?” “É a minha mãe.” “Quem fez esse bolo pra você?” “A mamãe!” “Pai, sabe quem trocou todas as figurinhas? A mamãe.” Sei o quanto vale essa palavra, e a mãe dele sou eu. A mãe deles, aliás, sou eu.

O que “mamãe” vai significar na vida desses meninos daqui a um tanto de anos, quando eles estiverem adultos, seguros (tomara) de si, andando por aí sozinhos? Que sentimentos e sensações estarão por trás da palavra, cada vez que eles a disserem no meio de uma conversa, quando forem contar um caso para um amigo? O que significa "mamãe"? O que nós teremos feito juntos, e que sementes estarão plantadas para que eles construam então a história com seus próprios filhos, se for essa a vontade deles? O que vai ficar?

Ao longo da semana, por causa da data que se aproxima, o menino vem fazendo na escola atividades que envolvem a figura da mãe, e invariavelmente chega pra mim com um sorriso de canto de boca, dizendo que "foi muito legal" ou que "tem uma surpresa que eu vou amar". Na terça-feira me disse que escreveu meu nome e me desenhou. "Foi difícil?" "Não, foi fácil, porque eu sei direitinho como é você." E como eu sou? "Você é linda e amorosa, tem um cabelo grande e usa o pijama azul que eu te dei". Mas o que mais? "Mais nada, ué, você é a minha mãe."

Numa noite dessas, enquanto concluíamos a preparação para o sono, o pequetito se queixou: "mãe, você vai embora rápido! Quando eu durmo, e eu acordo, eu quero te sentir, mas você já foi..." Expliquei para ele que a cama é pequena, é feita especialmente para ele, e que a mamãe gosta muito de dormir no quarto dela, com o papai, e ele pareceu entender. Dormiu sereno, depois de colo e carinho. Perto das 3h acordou chorando, coisa já rara de acontecer, e eu não pensei duas vezes. Pra isso servem as exceções. Levei pra minha cama, cheirei, deixei sentir e dormimos juntos. Quando amanheceu, fui eu quem acordou primeiro, e pude reparar cada detalhe, sentir a testa fresquinha, as mãos quentinhas, fitar os olhinhos fechados. Me deixei levar por um tempo, e depois tentei levantar, pé ante pé, na penumbra do quarto fechado. "Mamãe? A gente ainda não acabou, mãe, volta aqui!"

Feliz Dia das Mães!

Leia também: