Hoje ou amanhã?
/Então está tudo bem... Seu filho estuda numa escolinha infantil que o desenvolve e o faz feliz, você também se vê satisfeito com a parceria da escola até agora, o ambiente é bom, ele tem bons professores e estímulo para brincar a maior parte do tempo, exatamente como você acha que deve ser, mas ele já está grandinho... Está completando, veja só, quatro anos e precisa garantir sua vaga numa escola com potencial para levá-lo à faculdade, porque depois, já viu, né? Não! Não?
Olha, vamos por partes: claro que toda família tem seu entendimento único e particular sobre a forma com que deve conduzir a educação de seu filho, e claro que isso deve ser respeitado. Claro que existem muitas razões para mudar uma criança de escola, desde a insatisfação com a rotina atual até uma expectativa de mais estímulo em outro lugar. É possível que a criança já tenha um irmão na escola "top em aprovação", e por isso faça sentido a mudança, é possível que a escola seja mais perto de casa, ou ainda que mãe e pai tenham sonhado uma vida inteira com aquele colégio específico, e tudo bem... O que me incomoda é outra coisa: a pressão para que interrompamos um processo que funciona e faz bem (pra nós e principalmente para os nosso filhos) única e exclusivamente para garantir um lugar numa escola que, dizem as estatísticas, tem resultado mais eficiente na hora de arrumar uma vaga lá na faculdade.
Lá na faculdade, no caso de um menino de 4 anos, significa daqui a 13 anos! Há 13 anos, as escolas que constavam nas listas "top 10" não eram necessariamente as mesmas de hoje, e muito menos os processos seletivos das faculdades tinham o mesmo formato de agora. Há, inclusive, fortes indícios de que, daqui a 13 anos, as formas de ingresso tenham sido revistas e, quem sabe, os modelos de educação também tenham amadurecido, como é tão evidentemente necessário... Mas não é só isso: independente dos resultados palpáveis, não acho que o futuro intelectual de uma criança dependa exclusivamente da escola que ela frequenta ou, em outras palavras, não acredito que tenha que ser necessariamente aqui ou ali. Existem benefícios diferentes em escolas diferentes, desde que haja também o devido estímulo em casa. Se tivesse que fazer uma aposta, porém, diria que a base - os primeiros anos de vida - tende a ter papel mais determinante no desenvolvimento e na capacidade da criança de explorar seu potencial, mas, claro, não sou especialista...
Não sei se esse cenário se repete por todo o país, mas o fato é que aqui, a despeito de todas essas questões, o sistema faz pressão sobre os pais - dos que têm a privilegiada alternativa de pagar uma escola particular, diga-se de passagem -, acelera o passo, e torna a decisão de manter a criança numa escola exclusivamente infantil coisa rara. Faz, no fim das contas, que nossas preocupações com resultados que serão colhidos, se forem, ao fim do ensino médio, influenciem profundamente nossas escolhas acerca do ensino infantil. Não se trata, portanto, de questionar a escolha de uma ou outra família, e sim de pensar sobre o modelo de ensino que construímos ao longo das últimas décadas e sobre o que entendemos como sucesso para os nossos filhos. Claro que a decisão de não entrar na fila pela tal vaga é arriscada, mas a decisão de pautar o presente em função do futuro também é.