A TV, a varanda, a mamãe…

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Papai Noel trouxe um videogame aqui pra casa, e como ele não trouxe com as próprias pernas, é claro, eu nem posso reclamar. Sabia, quando dissemos sim a esse pedido, que seria desafiador. Passados os primeiros dias, o desafio maior tem sido o pequetito: 3 anos de idade e muuuuita vontade de jogar mais. Sempre mais. Sim, eu sei, em tese ele deveria ficar longe disso, mas a verdade é que na sexta passada ele já tinha ficado mais de uma hora em frente à TV quando a alegria virou cansaço, irritação e choro. “Então chega, tá na hora de fazer outra coisa”, eu disse, pra aproveitar a deixa, o que só serviu para multiplicar o choro. Alto e ríspido, sabe? Bravo de verdade… Pra minha sorte, meu marido estava por conta do irmão dele (assim fica mais fácil, né?), e eu pude oferecer, inteiramente, a tal outra coisa…

Minha primeira ideia foi dar um volta na rua, espairecer, jogar a lágrima no vento, mas a chuvinha que era fina foi ficando intensa e eu precisei desistir. A varanda então, vamos pra varanda! Normalmente eu pegaria um brinquedo antes de sentar, mas a crise era tão grande que fomos só nós dois, rápido, e sentei no chão mesmo, melhor lugar pra segurar ele no meu colo. De cara foi pior, porque ele queria sair, “me larga”, queria voltar pra TV, queria chorar mais e mais. Eu segurei um pouquinho, disse que podia chorar, perguntei se queria ver as árvores lá fora, “vamos procurar um gatinho”, ele disse não, não… nãaaao! Mas, devagar, foi parando de resistir, foi cedendo ao abraço, chorando menos, e me pediu pra ver a chuva caindo. Mostrei que ele podia deixar a água cair na mão dele, ele achou graça, sorria por causa das gotinhas, e me explicou que o gato tinha fugido da chuva.

Eu já tinha soltado o corpo dele totalmente, mas era no meu colo que ele queria sentar. Quando vi que estava mais calmo, ensaiei por uma ou duas vezes pegar um brinquedo, um quebra-cabeça, talvez lápis de cor e papel, ameacei levantar do chão, mas percebi que a gente podia fazer nada. Ele estava gostando de fazer nada! Desacostumada que estou com isso (o dolce far niente), fui respondendo meio desajeitada aos estímulos sorridentes dele, e lá pelas tantas o brinquedo dele era eu. Meu cabelo, minha mão, minha orelha, meu nariz… O pequetito foi explorando tudo, como um bebê de seis meses, mas dessa vez com mais recursos - ria, fazia perguntas, me pedia pra sentar assim ou assado, tecia comentários. Olhava pra mim, olhava pra si mesmo, encostava, dava beijo, deitava por conta dele no meu peito. 

De repente fez careta, eu perguntei o que era: “xixi”. “E qual o problema? Vamos pro banheiro!” Ele virou o beicinho pra baixo, disse que não queria ir porque queria ficar ali. “Eu não quero que você vá embora!” “Eu não vou”, respondi com firmeza. Ele sorriu com os olhos cheios de lágrimas, e em dois minutos estávamos de volta. Mais uma meia horinha de amor, e fomos fazer bolinhos de chuva.

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