Escola nova, aquele abraço!
/Eu sentei aqui faz poucos minutos, com um baita sanduíche na mão, porque depois de acordar cedo pra lavar roupa e deixar pronto o almoço das crianças, correr pra terapia (uma hora inteirinha só pra mim!), emendar num pediatra de última hora e enfrentar o maior trânsito sem sentar na frente de um prato de comida, eu preciso acompanhar a adaptação dos meus meninos na escola nova. Eu tô sentada aqui no meu canto, quietinha, mas não tô sozinha. Tem um pequeno grupo aqui comigo, muitas mulheres, poucos homens, todo mundo vivendo a seu modo "o grande momento". A minha missão desta vez é muito tranquila, e é muito pouco provável que a moça abra aquela porta branca pra chamar o meu nome. Eles estão, ao menos nesses primeiros dias, felizes da vida com a mudança, estão se sentindo crescidos, amadurecidos, numa “escola de gente grande”, ainda que no espelho esteja uma criança de três anos de idade. Que sorte.
Mas agora mesmo passou por mim uma moça com os olhos inchados, e quando cruzamos os olhares ela deu um sorriso discreto. Eu não sei a razão exata do choro dela, mas posso fazer algumas suposições. Imagino que, como eu, ela queira o melhor pro filho (filha?) dela, e imagino que ela não gostaria que ele sofresse com as decisões tomadas por ela. Acho que ela, como eu, queria dar aquela viajadinha no tempo pra ter certeza de que essa escolha vai trazer alegrias, e que ela ficaria mais confortável se ele, ao menos, não chorasse na porta da escola. Acredito que ela olhe pra esse pátio enorme, pra esse monte de gente que ela não conhece, e fique se perguntando se eles vão de fato olhar por todas essas crianças e se vão perceber quando o menino dela precisar de ajuda, seja a ajuda que for. Acho que ela acredita que eles tenham boa intenção, mas se pra ela é difícil cuidar de um, de dois, imagina dessa turma toda...
E enquanto eu avaliava se era o caso de puxar assunto com ela ou não (e perguntar o óbvio?), nosso silêncio foi interrompido por uma chuva de passos, tênis estalando, conversas num tom acima, muitos gritos, muita risada. Olhando assim, inclusive, a coisa parecia meio fora de controle, mas eu fiquei reparando bem e vi que tudo estava no lugar certo: um monte de crianças- maiorzinhas, é verdade, com seus seis ou sete anos - fazendo do recreio o espaço de festa que ele deve ser, correndo quase sem parar, conversando, se esbarrando, se desentendendo às vezes, mas rindo no final. Cada um deles têm as suas questões pra enfrentar, eu aposto, mas de que outra forma senão enfrentando, não é? Alguns minutos depois um grupinho largou a correria e se juntou no canto do pátio. Gritaram mais alto, fizeram farra, abraçaram efusivamente a moça que, eu saquei, era a professora do ano anterior, e encheram meus olhos...
Eu não disse nada pra minha companheira de espera, e acho que não precisava dizer. Ela sorriu, e desta vez foi com mais vontade...