Já há algumas semanas o clube aqui perto de casa reabriu, cheio de regras e restrições, e como a área é aberta e praticamente vazia, colocamos isso na nossa rotina quase que diariamente, compromisso de segunda a sexta, mesmo que a vontade no momento não seja muita, mesmo que pareça que estamos bem aqui trancados. Eles topam a esticada nas pernas, nem sempre com entusiasmo, mas sempre numa boa, e depois de bater a bola pra cá e pra lá numa quadra vazia, frequentemente entram numa conexão só deles que não tem outro nome que não seja infância, aquela mais pura e mais simples.
Mudam de nome, de voz, criam um cenário que eu não sei bem qual é, adotam gestos diferentes, conversam por uma hora inteira, às vezes deitam, se abraçam, correm para um canto, ficam sentados no outro, lutam ferozmente para conquistar alguma coisa e um mundo de coisas acontece ali sem que eu consiga acompanhar. E nem quero exatamente acompanhar - minha alegria neste caso é ver de longe, minha riqueza é saber daquilo tudo que acontece e que não passa por mim. Estão no mundo deles!
Hoje, quando a noite caiu, eram deuses da mitologia, falavam sobre planetas e terras distantes, talvez fossem pai e filho, não sei bem. Fico imaginando o sem fim de conexões que os cérebros fazem, penso na batida acelerada dos corações cheios de euforia, na roupa suja e pernas suadas que vão voltar pra casa… Será que vão se lembrar disso quando forem adultos? Será que vão saber contar da alegria que era percorrer a quadra de mãos dadas com o irmão, sentindo aquele ar quase frio do fim de mais uma tarde, mesmo que o mundo estivesse duro, muito duro em 2021?
#infancia #maesempandemia