A geração de reizinhos
/"Como quiser, sua alteza!" - foi só o que me faltou dizer pro meu filho no fim de semana passado. Eu não sei explicar exatamente como chegamos neste ponto, mas o fato é que, num estalar de dedos, saquei quem estava no comando. E não era eu. E não era a primeira vez. Desde que meu príncipe, digo, meu filho, nasceu, estou em alerta para fazer minha autoridade e a necessidade evidente de diálogo entre pais e filhos andarem lado a lado. Tudo precisa estar em equilíbrio, isso é fácil entender. Mas não é mole: a qualquer escorregada - e quem não escorrega? -, as proporçōes se desarranjam, e fica difícil saber qual cenário é mais comprometedor.
No sábado, deixamos de fazer uma visita matinal aos avós porque ele queria brincar em casa. Depois, de tarde, deixei de ir numa festa junina encontrar quem eu queria e comer uma canjica quentinha porque ele estava mais interessado em rever "Toy Story". No domingo, antes dos dedos estalarem e eu enxergar o que se passava, já íamos repensando o plano de fazer um lanche fora de casa porque ele não queria. Vossa majestade, 3 anos, não estava com fome.
Existe uma lista de explicaçōes para o fato de nós, bem intencionados pais de agora, estarmos cedendo em grande medida aos caprichos dos nossos filhos. Muito tempo fora de casa - e pouco tempo com eles - talvez seja o principal. Tentamos compensar, como se uma coisa fosse substituir outra. Aqui em casa, porém, acho que pesa muito a chegada do irmão, e o impulso quase orgânico que sentimos de fazer o mais velho se sentir prestigiado, considerando o prestígio natural que um recém-nascido tem. De qualquer forma, pode chamar de culpa. É ela que nos faz expandir os limites do diálogo e deixar o "eu não quero" virar "eu não vou".
O que me preocupa não é a perda da autoridade pela autoridade - não sou mandona, acredito imensamente na construção de uma relação familiar saudável em torno do diálogo, e fico aflita só de ver determinadas relações construídas em torno do autoritarismo vazio. A questão, aqui, é que, considerando a necessidade de proteção e de comando que uma criança tem, vejo claramente: não estamos ajudando em nada quando deixamos que escolham tudo, desde a pasta de dente que vão usar até o lanche da família. Existem escolhas de criança e escolhas de adulto. Me dá imenso prazer vê-los fazer suas escolhas, e isso acontece todos os dias, desde as primeiras semanas de vida. Mas não é razão pra eu deixar de tomar as decisōes que competem a mim.
Liberdade é uma coisa, permissividade é outra. E é um desafio enorme, no tumulto do dia a dia, diferir as duas. Mas permissividade faz mal, deixa uma conta cara para a família - e a sociedade - pagar e pode até transformar a liberdade em caos.