A chupeta dos Beckham
/Então a menina Harper Beckham foi fotografada com uma chupeta na boca. E aí, diante da cena inesperada, uma multidão já foi logo julgando a qualidade da educação que ela recebe, especulando as razões para uma menina de 4 anos ainda estar usando o acessório, e um jornal publicou até artigo para orientar David e Victoria… Virou assunto. Não fosse a menina famosa (!), não seria assunto de imprensa, mas o pior é que seria, certamente, assunto de vizinha, de tia, de colega de parquinho. De qualquer forma, a “pisada na bola” - ainda que o conceito de “pisada na bola” seja totalmente particular - vira assunto dos outros. Tá certo que o uso da chupeta a partir de determinada idade é mesmo condenado pela literatura especializada, mas não vamos entrar nesse mérito. Não é essa a questão.
A questão é que tá todo mundo de olho no vizinho, ali do lado, e cheio de opinião para dar. De graça, sem você pedir. Tem gente que tem mais opinião sobre o que se passa na educação dos filhos dos outros do que tem, ou teve, quando é ele que precisa educar. A doença de querer saber - e opinar sobre - a vida dos outros é mal deste tempo, recai sobre todo mundo, e tem uma crueldade especial quando o alvo são mães e pais que, supostamente, estão tentando acertar e têm pra contar uma história que não se vê quando se flagra uma chupeta na boca, ou uma crise de birra, ou um chororô aparentemente sem sentido.
Com Harper a repercussão é grandiosa, mas a intromissão poderia ser com meus filhos ou com os filhos das minhas amigas. Todo mundo tem uma história destas pra contar. David Beckham ficou especialmente irritado porque, no caso dele, a intromissão ecoa para todo lado. Mas nem precisa de tanto: já cansei de me chatear com gente “cheia de certeza” sobre o que não conhece. Há uns meses, ouvi de uma pessoa que nunca tinha me visto na vida que aquele choro só podia ser fome: “ele já mamou? Ah, então completa com uma mamadeira porque faz mal chorar assim...” E ela sabe lá o quanto ele mamou? E ela tem o que a ver com isso? Deus do céu!
É bem verdade que, às vezes, o nosso interesse pela vida dos outros ou, para dizer de um jeito mais doce, pela experiência dos outros, vem da nossa necessidade de troca, de colher informação para se sentir mais seguro. Ok. Isso justifica a observação, que não machuca ninguém, mas não justifica o julgamento e nem tão pouco a intromissão. Eu, dia desses, estava no aeroporto esperando o embarque quando vi passar uma mãe com um bebê no colo e um menino de 3 ou 4 anos junto. Ela tratava os dois com rispidez, e eu imediatamente pensei: “nossa, eu não trato os meus assim”... Em dois minutos, ela começou a relatar para a atendente da companhia aérea o problema pelo qual ela tinha passado, envolvendo atrasos e voos perdidos, crianças sem alimentação adequada e uma mãe com necessidades especiais aguardando por ela não sei bem onde… Precisa tratar os meninos com rispidez? Não, claro que não… Mas eu fazia ideia do que se passava? Pois é, não... Melhor cuidar da minha vida.