Diva? Não, obrigada...

Ryan McGuire/Gratisography

Ryan McGuire/Gratisography

Esse não é um blog feminista, nem eu tenho, de forma alguma, gabarito e bagagem para defender esse discurso. Bandeiras à parte, porém, considerando que não é possível educar e cuidar das próximas gerações sem cuidar de nós mesmos e sem olhar para esse mundo que nos cerca, peço licença para abrir um parêntese, por assim dizer, e voltar a um assunto pelo qual eu talvez já tenha passado, mas que estamos longe de poder deixar pra trás. Há alguns dias fiquei chocada, olhando pra TV, enquanto passava a propaganda nova da Bombril. Três lindas mulheres e um mote batido, ultrapassado e terrivelmente mal desenvolvido: quem sabe cuidar da casa somos nós e somente nós, mulheres, e o fazemos de forma tão eficiente que, no fim, ainda sobra tempo pra cumprirmos aquele outro dever e nos apresentarmos à sociedade lindas e decotadas, babyliss em dia, divas para quem quiser ver...

Eu fico pensando a quem serve esse confronto entre homens e mulheres - e entre tarefa de homens e tarefa de mulheres, capacidade de homens e capacidade de mulheres - e tentando entender qual é a graça de dizer que o homem não dá conta de cuidar da casa e que, portanto, é melhor que as mulheres o façam... Em que planeta isso contribui para "valorizar o protagonismo feminino" e "ressaltar o valor da mulher na sociedade brasileira", como a marca explicou depois que quis fazer? Que tipo de valorização é essa que só faz manter as coisas como estão, sobrecarregando a mulher e lhe trazendo todas as consequências de uma jornada por vezes sobre-humana?

Tendo a nossa sociedade passado pelos debates que passou nos últimos anos - décadas talvez! -, me assusta que alguém tenha tido essa ideia, mas me surpreende ainda mais imaginar que dezenas a viram, desenvolveram, aprovaram, gravaram... Não sou avessa à toda e qualquer propaganda, embora saiba qual é a dinâmica dela e o tamanho do poder que tem, mas me parece um pouco demais achar que tudo bem que meus filhos vejam esse retrato tão equivocado do potencial que eles mesmos, homens, têm e me enxerguem como a única capaz de limpar um fogão aqui em casa... Ora bolas! 

Isso não é piada, e enquanto nós, mulheres, acharmos que não tem mal nenhum ali, ainda estaremos, por esse mundo afora, ralando com a cozinha de domingo enquanto o maridão tira seu cochilo. Pior que isso, ainda teremos carreiras menos sólidas, contra-cheques inexplicavelmente mais baixos e uma longa lista de frustrações para lidar. A propaganda foi denunciada ao Conar por "debochar do homem", o que é péssimo, mas, sinceramente, acho que a vítima maior desse deboche é outra. 

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