Sempre (ou quase sempre) em frente
/Pra frente é que se anda, é claro, mas quem tem um filho, ou dois, ou três, já deve ter sacado que nem sempre o traçado da estrada é retinho... Estou aqui às voltas com um copo de transição, que funcionou muito bem pro irmão mais velho, mas que tem desafiado o bebê e a mamãe. Já somamos duas tentativas abortadas, imaginando que talvez ainda não tivesse chegado o tempo dele. Passados alguns dias, vamos tentar de novo, tumultuando, de novo, o processo que já tinha caído na rotina. Muito mais fácil é seguir dando suco pra ele na mamadeira, mas isso não vai poder ser assim pra sempre, não é?
Esse é só um exemplo. Quantos passos incertos são necessários pra consolidar um passo adiante? Essa é mais uma lição que a maternidade - e paternidade - passa pra gente, sutil e indiscutivelmente, todos os dias: muitas vezes é preciso abrir mão de alguma coisa que já conquistamos pra continuar crescendo. Tá comendo papinha com destreza? É hora de parar de amassar! Tá dormindo a noite inteira? Mas a gente precisa largar essa fralda, ou estrear a caminha nova, ou qualquer coisa assim... Crescer - e potencializar a oportunidade de crescimento de uma criança - é sair da zona de conforto, é deixar sujar o body, é encarar o copo de transição.
Talvez por isso essa primeira temporada da vida de um criança seja tão exaustiva para pai e mãe. Convivemos com o crescimento e o desenvolvimento em seu estado puro, constante, berrando no nosso ouvido. Não tem trégua, principalmente se a gente quiser cumprir com a nossa parte direitinho. E crescimento constante significa, também, desafio constante, dilema constante. Dá medo, dá preguiça, cansa demais. Duas coisas, porém, vão ficando claras pra mim diante de situações deste tipo. A primeira é que, muito provavelmente, o sofrimento é mais nosso do que deles. Crianças já nascem vencendo desafios, e só precisamos perceber qual modelo funciona melhor pra cada uma e ajudá-las a não perder a mão. Elas vão saber como fazer, quando for a hora de fazer. E a segunda coisa é que, depois que o passo estiver dado, tudo fica pra trás - a sujeira, a noite mal dormida, o estresse (e até a preguiça). Vai ter valido a pena.
E tem mais: no fim das contas, é grande a chance de a estrada ser mais curta do que parece, assim, à primeira vista. Rascunhei as primeiras linhas deste texto na segunda e, na quarta, como que num piscar de olhos, o bebê já tinha matado a sede com o copo, ainda que de maneira meio torta. Doeu, mas só um pouquinho.