'Preciso que um adulto cuide de mim!'

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De todas as coisas que meu caçula já me ensinou, neste curtinho espaço de tempo, a mais avassaladora, sem dúvida nenhuma, é que eu preciso me refazer. Estava dando certo? Pois é, mas agora você precisa de mais. Precisa mudar, encontrar um outro jeito de ser mãe, não só pra ele mas, principalmente, pro irmão dele. Na adaptação à nova rotina, foi esse meu drama maior - nada de como dar banho, levar pra vacinar ou dormir. Há três anos e meio faço questão de estar presente, olho no olho, sentindo e dividindo com meu filhote todo o progresso. Acontece que, quando são dois, o modelo precisa ser outro.

Dizem que a culpa nasce com a mãe, mas vou te contar: ela se multiplica quando, ao invés de um, são dois filhos. Aquela mãe que brincava de massinha, e depois de desenhar, e depois de carrinho, e depois de Batman, e depois de batucar... agora precisa amamentar e trocar fralda; precisa fazer o neném dormir. Sempre acreditei que a chegada do segundo filho pode trazer o equilíbrio necessário pra gente e uma riquíssima oportunidade de crescimento para o irmão, e continuo achando. Mas, de perto, a conta nem sempre fecha tão bem... Desde que o bebê nasceu, convivo com a sensação de estar devendo, de um jeito diferente, pra cada um dos dois.

Dia desses o menino acompanhava de longe o almoço do irmão quando começou um resmungo repentino. Eu perguntei o que houve, e ele não explicou muito. Segui com a papinha e, de repente, vi voar o Woody direto na tela da televisão. Um golpe só, nada usual e bem raivoso. Interrompi as colheradas, peguei o menino no colo, levei pro quarto, deixei chorar tudo o que ele precisava e, só depois, cobrei uma explicação. “Onde já se viu jogar boneco na televisão? Qual é o problema?” E a resposta tardou, mas apareceu: “eu preciso que um adulto cuide de mim, mãe!”

Não tenho a menor dúvida. Ele precisa. Na lista de 500 coisas que os pais penam para equilibrar, está mais essa: ele precisa de atenção, mas também precisa ganhar autonomia. Minha mãe diz que “as crianças de hoje” exigem muito, querem atenção o tempo todo. Ainda bem! Vejo isso como consequência da nossa decisão de nos aproximar delas, na intenção de promover uma educação mais acolhedora e abrangente. Não me arrependo. Mas é fato que essa decisão traz consequências, e às vezes é difícil segurar a onda. 

Ainda acho que, de tudo o que já fiz pelo meu primogênito, o melhor foi dar a ele um irmão. Não que não seja possível ser feliz sem um, mas quem cresceu com a mesa cheia há de entender o que estou dizendo. 

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