Papai quer um fraldário

Eu não tinha planos de tocar nesse assunto por agora, porque não estamos falando de nenhuma novidade, mas foi meu filho que me fez mudar de ideia. Estávamos encerrando o almoço no clube, e eu fui, como de costume, trocar a fralda do pequetito enquanto meu marido esperava sentado. “Mãe, por que não tem um desses no banheiro de homem?”, me perguntou o menino com a boca cheia de pasta de dente e a testa franzida, 5 anos nas costas, apontando para o fraldário que fica dentro do banheiro feminino. “Menino também tem filho, ué”, ele continuou seu raciocínio lógico, incomodado com o fato de que é (quase) sempre a mamãe a responsável por trocar a fralda do irmão na rua, coisa que não acontece em casa. E que resposta eu poderia dar pra esse menino? Como explicar que o clube que vive sendo reformado, que apresenta atrações e novidades de todo o tipo para o convívio de centenas de famílias felizes, ainda jogue nas costas das mulheres, necessariamente, a tarefa de limpar um bumbum, trocar uma roupa suja? 

Isso pode parecer um detalhe besta, mas até um menino de 5 anos vê que não é. Meu marido já foi obrigado a dar meia volta várias vezes e me entregar o pequetito de fralda suja, dizendo frustrado que “o fraldário fica dentro do banheiro feminino”. Recentemente foi em um restaurante novinho que, diferente do clube da década de 60, foi concebido já neste mundo em que homens e mulheres, supostamente, dividem tarefas. Essa indignação, como já disse, não é nova, e isso é bom sinal. Tem até celebridade reclamando disso. Tem, ainda bem, uma turma de pais querendo fazer o que precisa ser feito. Mas, a despeito dos arranjos familiares beneficiados por informação e sensibilidade, ainda estamos nadando contra a corrente. A maior parte do nosso sistema - seja na rua ou em casa - ainda coloca o pai como o cara do fim de semana, o extra, o que ajuda quando pode. Nos faltam instrumentos de mudança.

É uma parada dura, porque enquanto você se esforça para apresentar aos seus filhos  - que são, no frigir dos ovos, sua maior contribuição para o mundo - ideias mais justas sobre família e relacionamentos, a força contrária superlota a cabeça deles com essas mensagens indiretas (às vezes diretas) que, juntando daqui e dali, têm força capaz de deixar tudo onde está. E não estamos falando de um fraldário. 

Contei no Facebook já há alguns meses sobre o dia em que o menino me disse frustrado que não podia ter uma Baby Alive porque ela falaria mamãe, e não papai. “Não sou menina, não quero brincar de ser menina, quero brincar de ser pai”, ele se explicou, antes de dizer pra mim que “é errado que as bonecas só digam mamãe”. Eu só pude concordar com a indignação dele, e não consegui uma explicação que justificasse, aos olhos de uma criança, ser essa a “regra do jogo”. Temos aí, e não sei se já tivemos coisa parecida antes, uma geração de homens querendo ser pai de verdade (e de brincadeira também). Já passou da hora de a gente - homens e mulheres, que fique claro - dar os próximos passos. 

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