De mãe pra mãe
/Minha mãe completou há algumas semanas 61 anos de vida, 37 de mãe - há 37 anos, minha mãe. Acho que ela nem se lembra direito de como ela era antes de começar a cuidar de mim, assim como eu misteriosamente tenho a impressão de que essa vida que eu vivo agora começou há poucos anos, com o nascimento dos meus meninos... mas não foi. Foi com ela, com a vida inteira que ela passou a dedicar a mim, há 37 anos.
A mãe que eu sou hoje é resultado da mãe que ela é pra mim, tanto no que diz respeito ao que ela me entregou de bandeja quanto ao que deixou pra que eu construísse sozinha. Os erros e acertos estão aqui junto comigo, colaborando para que eu acerte mais e erre menos - ou erre de um jeito diferente. Não é ela a responsável pelos meus filhos, é claro, sei qual é o tamanho da minha responsabilidade em meio a isso tudo, mas se eles passam a semana com sorrisinhos misteriosos, com segredinhos, cochichos malfeitos no ouvido do pai planejando como me homenagear neste domingo, é porque certamente devo a ela também carinhos e homenagens.
A maternidade tem, entre tantos, esse poder: o de deslocar e reconstruir nosso papel de filha, dando uma dimensão nova, um peso novo, um sentido novo a tudo o que construímos com a mãe da gente. Parte disso é fruto da maturidade, eu sei, mas quando a gente segura pela primeira vez um filho nosso no colo, ou melhor, quanto segura pela 74ª vez em menos de 48 horas aquele bebê pequeno, indefeso, que reclama você não sabe de que, quando te passa pela cabeça aquele sem fim de perguntas sobre como você vai fazer pra ajudá-lo a se tornar um ser humano decente em meio a toda essa loucura que é a vida, é que a gente sente lá no fundo do coração o tamanho da nossa mãe.
Não é sobre homenagens na escola, não é sobre presentes caros, almoços elaboradíssimos, discursos que não têm fim. Que o Dia das Mães nos sirva para valorizar o nosso exercício, o nosso dia a dia, o trabalho que a gente faz desde o dia em que eles chegaram ao mundo e que vamos fazer pra sempre.
Feliz Dia das Mães!