Sobre amor e desobediência
/O menino estava pronto pra escola, dentes escovados, mochila nas costas, quando a mãe ajoelhou para as recomendações/declarações do dia.
- Dá um beijo aqui! Boa aula! Mamãe te ama!
- Também te amo.
E sem pensar muito, ela completou, como se o coração lhe viesse à boca sem censura, sem filtro, sem freio…
- Pensa nisso, tá? Pensa na mamãe na escola. Me leva no seu coração… Pensa sempre que eu te amo.
Mal se colocou de pé e já achou aquilo esquisito, achou que precisava corrigir. Arrependeu. Porque… pelo amor de Deus... onde já se viu isso? A felicidade dele é a minha felicidade… E é por acaso normal um menino de cinco anos ficar parado pensando na mãe de tarde, ao invés de brincar com os amigos? Que pressão horrorosa, que coisa mais 1960! Ora, francamente!
- Filho, mentira!
- Hum?
- Não precisa ficar pensando em mim, não. Curta bastante a sua tarde com seus amigos. Mamãe fica no seu pensamento pra quando você quiser, pra quando você precisar lembrar de mim, tá?
- Tá.
Iam andando em direção à porta quando o menino avisou:
- Mãe, então vou te desobedecer.
- Hein?
- Já sei, vou querer pensar em você a tarde toda, tá? Te amo.