Isso, meu filho, é com você!
/Era uma conversa despretensiosa com uma amiga dos tempos da adolescência, e lá pelas tantas, ela me disse uma daquelas frases que nos ficam martelando a cabeça. Ela me contava sobre a filha, que vinha encarando uma prisão de ventre que parecia ter fundo psicológico, apesar de todas as tentativas da mãe de ajudar. O caso não é o que interessa. “Eu tentei de tudo, até que disse a ela: minha filha, isso é com você. Eu te dou a mão, mas é você quem precisa resolver”, ela falou, com firmeza e serenidade.
Deixando de lado as receitas pra combater prisão de ventre e qualquer palpite que eu possa dar sobre como deve ou não se comportar uma mãe, voltei para casa certa de que aquela história poderia me ajudar a lidar com alguns do meus desafios. Ou melhor - com os desafios dos meus meninos. Vejamos o pequetito: está claramente penando para aprender a lidar com seus desejos, o que ele evidencia por meio de gritos e lágrimas. Assim: ele quer biscoito; eu pego; ele grita “toio!!”; eu entrego; ele empurra, chora, não quer mais; eu mostro “tá aqui”, ele chora mais alto; eu guardo então; ele berra, diz “toio, quero”; eu entrego; ele empurra, chora; e eu quase choro pensando que eu tenho que resolver isso. Mas talvez não tenha.
Embora eu conheça o meu papel de mãe e reconheça a todo tempo meu instinto de proteção, eu também penso que ajudo de forma impar se entrego a eles o que lhes cabe - se os deixo sentir a emoção que é deles só, de mais ninguém. A mim, sem dúvida, cabe apoiar, cabe oferecer alternativas e transmitir calma e segurança sempre que possível. Mas não posso resolver por eles. Não posso agora como não poderei no futuro, e minha vontade de mudar o mundo, além de inútil, é cruel. Cruel comigo, na medida em que cria uma expectativa que nunca vou conseguir atender, e cruel com eles porque imprime um tempo de resposta que nem sempre é o deles.
Fica mais leve a vida se cada um cuida do seu, mas em meio a biscoitos jogados no chão, choros e responsabilidades que pesam lá no fundo, eu já ia me esquecendo…